terça-feira, 20 de novembro de 2018

Trabalho escrito (Temas dos seminários)




INSTITUTO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS


Grupo Transpasse:
Pedro Ivo Maia
Alzira Bosaipo
Carla Veras



Disciplina: Teoria e Processos Criativos para a Cena – TPCC
Professor orientador: Marcus Mota






NOVEMBRO DE 2018



APRESENTAÇÃO

O presente trabalho apresenta em forma de relatos, o processo de composição do roteiro intitulado Quando as cigarras cantam, escrito a partir de narrativas que tinham como tema em comum a violência doméstica. Foram escolhidas três narrativas (duas que são experiências com pessoas próximas a membros do grupo e outra retirada de um documentário sobre violência doméstica). O fato de termos escolhido narrativas cujas protagonistas são pessoas conhecidas gerou um processo bem intenso e de muito apego por parte dos membros do grupo.
Cada membro do grupo escolheu temas para desenvolver seu relato sobre o processo criativo a partir da escolha das narrativas. Os temas que foram escolhidos e que serão detalhados a seguir são:
As experimentações e o mapa de decisões criativas – Pedro
Pesquisa imagética e escrita do roteiro – Alzira
Música e Sonoplastia – Carla







EXPERIMENTAÇÕES E VIVÊNCIAS

Pedro Ivo Maia

Após escolhermos e escrevermos os depoimentos (as narrativas escolhidas), partimos para a elaboração do roteiro diagramático proposto pelo professor. Dividimos os depoimentos em sequências de cenas e colocamos pontos que pensamos abordar em cena, como: uso de objetos e sonoplastia. A etapa seguinte foi experimentar cenicamente as sequências que idealizamos. Elas foram dirigidas por: Alzira, Pedro e Juliana.
No início, tentamos separar as direções de acordo com as sequências que fizemos no roteiro diagramático, com o objetivo principal de explorar a relação dos agentes em cada sequência. Entretanto, ao longo das experimentações acabamos não seguindo exatamente a sequência do roteiro como havíamos imaginado. Pois, não queríamos colocar o homem como agente, mas acabamos tendo que usá-lo para as relações aparecerem. Além disso tiveram sequências que acabaram não entrando nas experimentações.
A primeira direção (Alzira), foi baseada na sequência 1 e 2 do roteiro, que tinha como base o documentário “Caminhos da reportagem - os filhos da violência doméstica”. A abordagem principal foi a relação entre o casal, que mostrou diferentes perspectivas, como: o homem em seu “estado animal” e momentos de prazer com a esposa. Usando ideias do roteiro como referência para fazer a direção, ela também abordou o encontro entre mãe e filha após agressão física, que deu origem a ideia de usarmos a imagem da escultura “Pietà” como referência. A segunda direção (Pedro), foi baseada no relato de abuso infantil dado. Nessa experimentação foi abordada a relação de abuso entre pai e filha, que nos mostrou os danos psicológicos presentes na criança e justificativas de abuso que o pai usava, como: a filha bagunçar objetos enquanto brincava. A terceira direção (Juliana), também foi baseada no relato de incesto. Ela usou elementos da sequência 3 do roteiro diagramático (mãe lavando roupa). Essa experimentação explorou a relação dos três agentes. Os atores estavam vendados e todas as  relações de abuso abordadas nas outras direções foram aprofundadas.
Graças ao que foi aparecendo, nos achamos que tínhamos conseguido conteúdo suficiente para montar o roteiro. Então, vimos as filmagens das direções e fizemos o mapa de decisões criativas no qual avaliamos os melhores pontos que conseguimos e que gostaríamos de usar no roteiro. O curioso foi ver como as ideias foram se misturando e abrindo caminhos diferentes na hora de montar o roteiro.


ESCRITA DO ROTEIRO – A MATERIALIZAÇÃO DAS IDEIAS

Alzira Bosaipo

É muito interessante observar a distância existente entre as ideias iniciais que possuíamos acerca de como seria o roteiro e o material que obtivemos ao final do processo, onde algumas ideias permaneceram e outras foram completamente alteradas.
Desde o momento em que as narrativas foram escolhidas, o grupo já possuía opiniões claras sobre a estética que pretendíamos abordar (linguagem metafórica, utilização de dança, partituras corporais, música e não representar a violência de forma explícita). Com base nestas ideias iniciais, o roteiro diagramático foi criado e, sempre que o discutíamos imaginávamos como as cenas aconteceriam.
Partindo das ideias que o grupo possuía a partir dos elementos inseridos no roteiro diagramático, fizemos uma pesquisa imagética com os elementos principais que haviam sido colocados no roteiro diagramático, a pesquisa incluiu: imagens de objetos domésticos, tecidos, elásticos, água, sempre buscando uma visão cênica na utilização desses objetos. Foi feita também uma pesquisa coreográfica de vídeodança, contato e improvisação, clipes musicais e espetáculos teatrais. O mais interessante da pesquisa imagética foi perceber que algumas ideias que possuíamos no início, não eram funcionais cenicamente, por exemplo: no roteiro diagramático colocamos uma cena que se desenvolvia a partir da utilização de uma máquina de costura como metáfora para a violência, mas ao fazer uma pesquisa imagética sobre a utilização de uma maquina de costura como metáfora, percebemos que esta ideia não funcionava do modo como queríamos e, por isso a ideia foi abandonada.
Todo material obtido nas pesquisas e experimentações, foi postado no blog criado para o registro do material. O modelo de blog escolhido foi um grupo no Facebook (Transpasse – Violência e Feminicídio). A criação do blog onde postávamos o desenvolvimento do nosso trabalho configurou-se como um diário de bordo, um registro de tudo o que fazíamos e que nos auxiliou muito na escrita do roteiro final,  pois sempre que tínhamos dificuldades voltávamos às pesquisas que estavam postadas no grupo.
Imbuídos de todo material narrativo, conceitual e imagético, partimos para as experimentações, onde obtivemos materiais muito interessantes para a criação do roteiro, materiais que não teriam surgido se ficássemos apenas discutindo como gostaríamos que fosse nosso produto final. Após as experimentações, chegamos à etapa que considerávamos mais fácil: materializar tudo o que tínhamos vivenciado em um roteiro teatral! Como estávamos enganados...
Escrever “a quatro mãos” é um processo que exige paciência e disponibilidade, mas que no fim das contas mostra-se muito rico. Coletivamente, foi possível encontrar alternativas para o desenvolvimento do trabalho que dificilmente seriam encontradas de forma individual, mas isto não significa que não encontramos dificuldades na escrita do roteiro, as principais dificuldades encontradas estavam relacionadas às ligações entre as cenas (algo que possivelmente teria se resolvido se tivéssemos tido mais tempo para as experimentações) e sobre como escrever as movimentações de forma que ficasse claro para quem fosse ler.
Ao final da primeira versão do roteiro, buscamos relacioná-lo com as narrativas, as ideias estéticas iniciais e as pesquisas feitas. Este retorno ao material inicial nos mostrou que algumas ideias que possuíamos seguiram por caminhos diferentes, uma das ideias que mais se diferenciou das propostas iniciais, foi a definição das personagens envolvidas.
Inicialmente, como parte das nossas opções estéticas e ideológicas, havíamos definido que o personagem masculino (o agressor) não teria fala, a história seria contada apenas a partir da visão das mulheres envolvidas. No entanto, durante as experimentações, a questão da violência masculina, suas motivações e a construção social, nos tocou de forma muito intensa, estando presente em todos os exercícios que fizemos. Como resultado, a presença masculina ganhou destaque no nosso roteiro, inclusive com várias falas.
A experiência de escrever um roteiro seguindo etapas tão bem delimitadas foi uma experiência incrível e nova para todos os integrantes do grupo, ficamos satisfeitos com o produto final. Acredito que na próxima vez que nos empenharmos em tal tarefa, teremos muito mais êxito, pois este tipo de trabalho aprimora-se de forma proporcional à experiência que vamos adquirindo.


SONOPLASTIA E AS ESCOLHAS NARRATIVAS NA COMPOSIÇÃO DO ROTEIRO

Carla Veras

Sonoplastia: Durante todo o processo criativo nos preocupamos bastante em como os sons que iriam ser usados para compor as cenas, isso tanto durante as transições de quadro, quanto no momento das execuções de sons durante as cenas, até mesmo por parte dos atores. Por ser um roteiro com pouquíssimas falas, a sonoplastia da peça se fez extremamente necessária para a “costura” final do enredo, e ao utilizarmos música, grunhidos, sons de cigarras, assobios, barulhos de objetos caindo e batendo e etc. Atingimos esse objetivo, o porquê de cada som descrito em cena foi pensado cuidadosamente e testado em cena durante o período de experimentação, o que fez com que fosse absolutamente necessária para o desenvolver do psicológico dos personagens e da trajetória criada em cena.
Nós optamos por abordar o tema da violência contra mulher de uma maneira mais simbólica, sem coisas escrachadas, e a sonoplastia foi pensada justamente para intensificar isso na obra. Utilizamos por exemplo, do canto das cigarras ( inclusive este é o nome da peça) pois retrata bem o estado psicológico da mãe e da filha. O som que as cigarras emitem é forte e desregulado e possui uma vibração bem característica que provoca uma sensação contínua de confusão, outro fator que nos levou a utilizar esse som foi que durante toda a experimentação por ser época de acasalamento das cigarras, esse foi um som presente e que ajudou na composição das cenas, além disso decidimos utilizá-lo pela sua simbologia. O som das cigarras é produzido apenas pelo macho da espécie, o que trás um enorme significado, já que ofusca o poder sonoro da fêmea, o que é exatamente o que acontece em relacionamentos abusivos, onde a mulher não tem espaço para fala.
Outra opção que decidimos assumir foi a de uma música autoral para a peça, optamos por isso pois, trabalhar com uma música nossa tem um significado pessoal para todos nós, a canção escolhida fala sobre um relacionamento abusivo de uma maneira simbólica, o que fez com que se encaixasse perfeitamente com a dinâmica que buscávamos ter no roteiro, depois no final do espetáculo a mão assume essa música e a ressignifica, fazendo dela seu grito de liberdade, a letra da composição é:

Vai agora, eu quero ouvir sua história
eu quero só saber
o que anda pensando
o que anda fazendo
o que você quer me dizer
vai, dizer nada não importa
eu só quero saber
o que se passa dentro de você
silêncio, ensurdecedor
vergonha, que não acrescenta em nada
além de dor.

A música possui compasso binário, é inteira dedilhada e segue a mesma metrîca toda a música, foi composta utilizando os acordes Am, Em, C, G nessa mesma sequência, violão com afinação padrão.
Além disso utilizamos vários sons ambientes, que foram pensados para preencher o buraco da não fala. Além de sons característicos como o do pano batendo enquanto é lavado (utilizado para abafar os sons ao redor, na cabeça da mãe), o da batida (representa a pancada à cabeça que a mãe levou) o do cantarolar que a mãe faz várias vezes em cena ( representa a busca dela por preencher seus pensamentos), os grunhidos que o pai da algumas vezes ao longo da peça ( que representa a bestificação do homem), a menina cantando boi da cara preta (significa a perda contínua de sua infância e inocência) entre outros sons que foram colocados.

Escolhas narrativas:
Nós baseamos nossas escolhas narrativas para a composição do roteiro, em vivências pessoais, depoimentos de conhecidos, histórias divulgadas na mídia e pesquisas, escolhemos três histórias de mulheres que passaram por situações de agressões e abusos e através delas, fizemos um compilado de histórias que se dividem no decorrer dos atos, mas no final representam uma só. 



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