quarta-feira, 3 de outubro de 2018

análise narrativa Dandara

Narração Dandara

    Mulher periférica, pobre e portadora de HIV, Dandara dos Santos, registrada como Clenilson dos Santos, nasceu em Fortaleza – CE e tinha 42 anos. Identificava-se como homossexual até os 18 anos, quando se assumiu travesti.
    No dia 15 de fevereiro de 2017, no bairro Bom Jardim no período diurno, vizinhos avistaram Dandara subindo na moto de um homem desconhecido. O qual foi identificado, pela mesma, como um “cliente” do seu trabalho de prostituição. Ela foi levada por este homem para uma rua isolada da comunidade, onde sofreu uma série de agressões por um grupo de doze homens, dentre eles quatro menores de 18 anos.
    Um dos agressores, após iniciada as agressões, resolveu filmar com seu celular aquela situação. O vídeo de um minuto e vinte segundos mostra Dandara levando mais de quinze pancadas, entre elas: três ponta pés no rosto, três golpes com uma tábua de madeira, tapas de chinela, socos e insultos. Durante o espancamento a polícia foi chamada por populares, porém a espera por socorro durou mais de 20 minutos, pois a equipe mais próxima estava atendendo a outra ocorrência. Por fim, os agressores se juntaram e a colocaram em um carrinho de mão, o vídeo termina neste momento, mas as agressões não. Dandara foi levada para o local da sua execução, onde levou dois tiros e uma forte pedrada na cabeça, causando assim a sua morte por traumatismo craniano.
    O conhecimento da existência de Dandara foi proveniente da publicação do vídeo, que ocorreu dezesseis dias após o seu assassinato. O vídeo viralizou na internet em menos de dezenove horas, causando uma repercussão intensa no Brasil. 
No dia 6 de abril de 2018, cinco dos envolvidos no caso foram sentenciados. Francisco José Monteiro, Jean Victor Silva, Rafael Alves e Francisco Gabriel Santos por homicídio triplamente qualificado.


1- Um elemento fundamental é o da câmera. Se não fosse a filmagem nas mídias sociais, ninguem saberia o que houve.  Esse olhar câmera pode ser aproveitado. A câmera não capta tudo. Não é uma filmagem profissional. O jogo de aproximação e distância, o movimento da câmera/celular.
2- a cena no vídeo ( https://www.youtube.com/watch?v=42l05HNZP1I&bpctr=1538611394 ) é para fazer Dandara entrar no carrinho de mão. Aqui ela é tratada com um cachorro, como um bicho, como um animal que vez alguma coisa errada.
3- Além de deixar de ser gente para virar bicho, ela vira um coisa. Carrinho de mão transporta coisas, tijolo, cimento, pedras.
4- A cena faz convergir diversos tipos de massacres públicos, como o judas, e o apedrejamento de santos.
5- Há um aspecto de justiça/eliminação ritual em lugar público, aos olhos do mundo.
6- Outro elemento é o de construção, de materiais de construção utilizados no linchamento.
7- O vídeo postado é acompanhado por diversos julgamentos. Seria interessante projetar esses julgamentos na medida em que acontece a violência.
8- Eles usam chinelo, socos, tábua de madeira, uma barra de ferro ou pau- muitos instrumentos, como eram usados na tortura militar ou na idade média.
9- é uma criminosa expressão de intolerância, mas é muito primitiva: a rua empoeirada, os agressores em círculos em volta do corpo sacrificial.

Mais do que as razões ou justificativas, o interessante é ver que o morticínio dela revela que a mata. Há uma série de golpes, de violências, de descargas contra o corpo de Dandara. Ela deixa de ser alguém para se tornar um sacrifício, um ritual que aponta para seus violentos agentes.
Isso fica bem evidente quando o rosto ensanguentado começa a se desfigurar e ela não mais reage. Há a partir daqui uma transferência de foco para aqueles que cometem a violência criminosa.


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