terça-feira, 27 de novembro de 2018

Seminário Número 33



UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS

TRABALHO FINAL DE TEORIA E PROCESSOS CRIATIVOS PARA CENA

NÚMERO 33

Vivian Silva 17/0026337
Beatriz Gasparotto 18/0013840
Naara Mello 18/0093840
Otávio A. R. Motter 16/0140293


Brasília - DF
Novembro de 2018


APRESENTAÇÃO

O tema escolhido foi estupro coletivo. No início queríamos retratar sobre violência doméstica, porém decidimos ficar com estupro coletivo, porque além de ser um ato corriqueiro, assim como os outros, é pouco visado. O caso número 33 retrata a violência que uma adolescente sofreu, foi estuprada por 33 homens. O nosso trabalho aborda justamente a culpabilização da vítima e como a cultura do estupro está presente ao longo dos anos e nas diversas culturas.
Vivian - Cultura do estupro
Beatriz- Introdução, pesquisa imagética, música e sonoplastia
Naara- Experiência como atriz e personagem
Otávio- Roteiro e gravação

CULTURA DO ESTUPRO
                                                                        Vivian Silva

VIOLÊNCIA CONTRA MULHER: A violência afeta mulheres de todas as classes sociais, etnias e regiões brasileiras. Atualmente a violência contra as mulheres é entendida não como um problema de ordem privada ou individual, mas como um fenômeno estrutural, de responsabilidade da sociedade como um todo. Apesar de os números relacionados à violência contra as mulheres no Brasil serem alarmantes, muitos avanços foram alcançados em termos de legislação, sendo a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) considerada pela ONU uma das três leis mais avançadas de enfrentamento à violência contra as mulheres do mundo.
           
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/resolveuid/1624cb94-4579-4130-8589-83a96b05353a
O sistema mudou, criou-se uma lei de proteção às mulheres em relação a violência física ou psicológica, mas a violência continua e ainda temos uma cultura impregnada que se chama “cultura do estupro”, apesar de mudar o sistema, a cultura não muda.
CULTURA DO ESTUPRO: Cultura do estupro é um contexto no qual o estupro é pervasivo e normalizado devido a atitudes sociais sobre gênero e sexualidade. Comportamentos comumente associados com a cultura do estupro incluem a culpabilização da vítima, a objetificação sexual da mulher, a crença em mitos do estupro, trivialização do estupro, a negação de estupros, a recusa de reconhecer o dano causado por algumas formas de violência sexual, ou a combinação entre esses comportamentos. A noção de cultura do estupro foi usada para descrever e explicar comportamento dentro de grupos sociais, incluindo estupros dentro de prisões, e em áreas de conflito onde estupros de guerra eram usados como arma psicológica. Sociedades inteiras foram acusadas de possuir uma cultura de estupro.
MÚSICA E SONOPLASTIA         
                                                            Beatriz Gasparotto
           
As escolhas das músicas foram bem fáceis, como eu já conhecia as músicas, apresentei ao restante do grupo e todos gostaram, então decidimos unir todas. No vídeo a música tocaria no fundo, seria acústica e soaria como uma “canção tranquila” em meio à violência que estaria se passando no vídeo. Decidimos que eu cantaria a música e o Otávio tocaria no violão. Optamos por músicas que mostrassem uma crítica relacionada à violência e  favela. A primeira escolhida foi “Baile de favela - Mariana Nolasco” que é um cover “respondendo” a música original, que literalmente retrata um estupro coletivo na favela. A resposta da Mariana é uma crítica a essa situação. A segunda música foi “P.U.T.A - Mulamba” que retrata o medo diário que a mulher sofre ao andar na rua e também fala sobre como as minorias são atacadas e pouco faladas. A terceira foi “Triste, louca ou má - Francisco, el hombre” que fala sobre como a mulher sempre é vista como louca e como a culpa sempre está nela e nos seus atos e escolhas, refletindo sobre a mulher empoderada. Todas as três retratam como a sociedade culpa a vítima.
            Durante o processo, decidimos que alguns sons iriam aparecer em determinadas cenas, porém mais baixos, para que a música prevalecesse. Como, por exemplo, a primeira cena se passa num baile funk, o funk fica tocando no fundo, assim como nas outras cenas, aparecem sons de risada, conversas e rádio.
Baile de favela - Mariana Nolasco cover
Eu vou contar pra vocês
Não queria dizer nada
Desafio é ouvir e ficar de boca calada
Como é que vocês podem dizer?
Como é que vocês podem
Nem se quer se arrepender?
Dizer que é baile de favela
Fuder com a vida delas
Tentar me convencer que quem vem quente ferve elas
Mas esquece que essa vida é pra quem quer
Tirar nossos valores, esquecer os da mulher
Vocês sabem que de um tempo pra cá
As menor só engravidam e o sustento onde tá?
Eu sei lá, mas deixa pra lá
Quem se importa é o menor
E a mãe que vai ter que cuidar
Eu vou contar pra vocês
Não queria ouvir nada
Desse quente, to fervendo
E quem vai ser a usada?
Será eu, ou ela? Ou não! você?
Isso pouco me interessa
O que importa é aprender
A referência de respeito pra usar
É baile de favela com muito amor pra dar
Eliza, Maria, Regina e a Margarete
Todos nós somos humanos
E é o amor que prevalece.
Se quiser dar uma fugida pode pá
Pode ir quente ou fervendo
Mas respeita o seu par
Ivonete, e a Judete, a menina e a Lurdete
João Paulo, São Francisco e a turma da Elizete
Todos nós temos muito amor pra dar
Pode ir quente ou fervendo
Mas respeita o seu par
Porque um dia
A chapa que você ferveu
Pode ser a mãe dos filhos do destino que escolheu
Vocês sabem a situação que vão encontrar?
Então pensa no menor e onde isso vai levar
Vamos pensar! Será que vai ajudar?
Será que essa letra vai mostrar o valor a dar?
Que o Helipa, é baile de favela
Que a Marcone, é baile de favela
Que a São Rafael, é baile de favela
Os menor preparado pra florir a vida delas

P.U.T.A - Mulamba
Ontem desci no ponto ao meio dia
Contramão me parecia
Na cabeça a mesma reza
Deus, que não seja hoje o meu dia
Faço a prece e o passo aperta
Meu corpo é minha pressa
Ouviu-se um grito agudo engolido no centro da cidade
E na periferia? Quantas? Quem?
O sangue derramado e o corpo no chão
Guria
Por ser só mais uma guria
Quando a noite virar dia
Nem vai dar manchete (nem vai dar manchete)
Amanhã a covardia vai ser só mais uma que mede, mete, e insulta
Vai filho da puta
Painho quis de janta eu
Tirou meus trapos, e ali mesmo me comeu
De novo a pátria puta me traiu
E eu sirvo de cadela no cio
E eu corro (eu corro)
Pra onde eu não sei (pra onde eu não sei)
Socorro (socorro)
Sou eu dessa vez (sou eu dessa vez)
Hoje me peguei fugindo
E era breu, o sol tinindo
Lá vai a marionete
Nada que hoje dê manchete
(E ainda se escuta)
A roupa era curta
Ela merecia
O batom vermelho
Porte de vadia
Provoca o decote
Fere fundo o forte
Morte lenta ao ventre forte

Triste, louca ou má- Francisco, el hombre
Triste louca ou má
Será qualificada
Ela quem recusar
Seguir receita tal
A receita cultural
Do marido, da família
Cuida, cuida da rotina
Só mesmo rejeita
Bem conhecida receita
Quem não sem dores
Aceita que tudo deve mudar
Que um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define
Você é seu próprio lar
Ela desatinou
Desatou nós
Vai viver só
Eu não me vejo na palavra
Fêmea: Alvo de caça
Conformada vítima
Prefiro queimar o mapa
Traçar de novo a estrada
Ver cores nas cinzas
E a vida reinventar
E um homem não me define
Minha casa não me define
Minha carne não me define
Eu sou meu próprio lar






PESQUISA IMAGÉTICA
Beatriz Gasparotto
Como optamos pelo meio audiovisual, fizemos diversas pesquisas sobre como poderíamos gravar esses vídeos, assistimos um filme chamado “Mother!”, a parte a qual usamos como referência é uma em que a mulher se encontra no centro da filmagem enquanto apanha dos outros personagens sem falar nada.
Também pegamos referência de um vídeo “#savesyriaschildren”, que também dá essa ideia de que a pessoa está no centro enquanto toda a violência ocorre em volta dela. Então decidimos que Beltrana ficaria ao centro da violência.
Durante o processo decidimos que a filmagem seria feita através dos anos e em diferentes culturas. Algumas cenas se passavam atualmente, enquanto outras seriam em 1980, 2000… O que marcaria o fim/começo de uma nova época, seria o figurino e efeitos no vídeo. No fim, o objetivo seria mostrar como independente de local, cultura, idade ou época, a violência contra a mulher sempre existiu.
Os lugares escolhidos para filmagem foram locais abandonados, prédios. Para justamente dar a ideia de abandono da personagem através da sociedade.

PERSONAGEM - BELTRANA
Naara Mello

Beltrana tinha apenas dezesseis anos passando por aquela situação que muitas mulheres passam todos os dias. Primeiro teve o desenvolvimento de procurar uma história, li sobre vários relatos de meninas jovens sendo abusadas sexualmente e isso me trouxe vontade de pensar de como seria se eu passasse pela mesma situação. Beltrana era uma menina animada que também queria conhecer festas, ter muitos amigos, experimentar drogas como todo adolescente.
 Mas se deixou levar confiando em todas as pessoas que estavam do seu lado, ela apenas se sentia perdida por tudo o que estava acontecendo com ela. Quando comecei a gravar os vídeos como modo de experimentação, percebi a querer me colocar no lugar dela. De como é se sentir tão vazia por se deixar levar por tantas drogas. Então comecei com esse processo criativo no vídeo.  Como seria eu se fosse a Beltrana? O que ela estava sentindo? Será que estava tão drogada para não conseguir reagir?
Sinto que a todo momento Beltrana pedia socorro, não um pedido de ajuda qualquer, mas um pedido de muito desespero. Ser carregada para vários lugares durantes dois dias de abusos sem tomar banho, roupas sujas de sangue. A cada suspiro era uma forma de tentar sair dali de tentar sobreviver.
Imaginar essa cena toda já me trazia aflição de tudo o que ela havia passado durantes 48 horas. É muito difícil vivenciar a vida dela e o que poderia acontecer com ela a qualquer momento. É uma história muito humilhante onde cerca de 33 homens são manipulados para o abuso.  
Beltrana representa todas as mulheres que sofrem e já sofreram abusos como consequência de uma sociedade herdada a séculos atrás. Os dois dias de abuso que Beltrana sofreu foram provas vivas que os homens e a masculinidade tão “Forte” só mostra o quanto somos cercados por homens machista e sem respeito pelas mulheres.


BELTRANA
Naara Mello

O que beltrana queria que tivesse acontecido na festa? Como a família reagiu a isso tudo? Como isso afetou futuramente o estado emocional?
Beltrana era acostumada com noitadas, como era jovem sempre acreditava que talvez nunca iria acontecer nada. Aquele acontecimento poderia acontecer com qualquer mulher, não pela roupa, não pôr está no momento errado, mas pelo fato de ser Mulher.
Como era uma menina menor de idade e estava cercada de amigos que “Confiava” nada ali poderia acontecer. Os pais consequentemente não sabiam o que fazer ou o que estava acontecendo, apenas era um choque de realidade que tinha sido ocorrido com a sua filha Beltrana. Isso é uma forma de quantos somos fragilizadas de como somos expostas. Ela não fazia a mínima ideia do que realmente tinha acontecido. Apenas jogada em um mato seco levada para uma casa abandonada. Onde muitas vezes ali naquela casa poderia ter acontecido vários estupros. Aquele lugar foi passado muita dor.
           Beltrana depois de tudo o que havia acontecido ficou com trauma de toque, carinho. Muitas vezes poderia não sentir mais nada. Ficou no seu emocional atingindo sua forma de tratar as pessoas de não querer mais andar sozinha, amizades que nunca mais ela confiaria, relacionamentos que ela teria dificuldade. Isso tudo foi uma forma de como o abuso sexual pode matar internamente qualquer mulher.
E os trinta homens o que acontecerá com eles?
          Eventualmente não aconteceu nada, não foram expostos, não foram achados. Muitas vezes eles se safam ou apenas fogem da vergonha que foi ali feita. Mas a dor ocorrida em Beltrana sempre irá ficar marcado uma sequela em seu corpo.

Poema sobre Beltrana
Perseguida, machucada, encurralada.
Meu choro ali não foi nada.
Meu grito, minha alma foi levada.
Foram trinta e três homens que eu me sentia encurralada.
Aonde eu estou? Será que alguém consegue me ouvir? 
A cada olhar, a cada toque eu me sentia humilhada.
Será que ainda vou voltar para casa?
A minha alma foi rasgada.
Eu peço SOCORRO!
Mas ninguém me ouvia
Foram quarenta e oito horas sendo massacrada.
Meu corpo, minha voz ali já não tinha nada.
Socorro! Socorro! Socorro!
Eu já estava morta por dentro
Meu sangue já havia escorrido.

Somos mulheres mortas todos os dias
Nossas raízes são mais profundas
Não vão calar a nossa voz, nosso grito!
Somos gente!
Existimos
Resistimos!


ROTEIRO
Otavio A.R. Motter
A princípio, assim que foi decidido produzir o trabalho baseado somente no relato em questão, estávamos demasiadamente afobados para iniciar logo a criação do roteiro. De início foi determinado que trabalharíamos com o meio audiovisual por uma questão de afinidade, mais ainda assim faltava decidir qual seria nosso objetivo com esta história. Porque contá-la? As discussões nos levaram a optar por usar dessa história para argumentar que a violência contra a mulher é sistemática e cultural.  Ficou então decidido que usaríamos os 33 homens mencionados nas reportagens, e cada um seria um mecanismo, instituição ou atitude conivente com a cultura do estupro.  Por exemplo; o delegado seria evidentemente um símbolo de como poder executivo e judiciário agem diante da questão, e o sujeito que gravou e fotografou seria a personificação das mídias e redes sociais, mostrando como que o sensacionalismo de umas coisas e a normalização de outras contribui para a situação. Queríamos ter também alguma figura religiosa no enredo para incluir as instituições religiosas, porém, ao longo das semanas fomos nos deparando com dificuldades em encontrar metáforas o suficiente para todos os personagens e em como aplicá-las de forma sutil e poética. Surgiu então uma outra ideia para o resgate. Concentrar o roteiro nos personagens cujos contrapartes no mundo real possuem mais evidências e relatos nas matérias jornalísticas, e o usar variadas eras para passar o nosso argumento. Como? A ideia era mostrar essa mesma história, com essas mesmas pessoas, se repetindo sob diferentes sistemas de governo, com diferentes leis, modas e tecnologias, deixando evidente que, se isso se repete a tanto tempo, certamente é algo mais profundo e complexo do que simplesmente:  “são essas meninas de hoje e as roupas delas”. Só essa ideia já tornou desnecessário o uso da fala escrita. A partir disso, o escrever do roteiro fluiu naturalmente com auxílio do quadro diagramático, ficando pronto em questão poucas horas. Na segunda edição do roteiro, depois da análise do professor Marcus Mota, foi dado uma maior atenção ao figurino e aos objetos para que os mesmos deixassem claro a viagem através das décadas.


GRAVAÇÃO
Otavio A.R. Motter
Das 11 cenas escritas, conseguimos gravar 3 em uma única noite, tirando proveito de uma festa no campus universitário que ao mesmo tempo excluiu a necessidade de se encontrar figurantes. Foram utilizadas duas filmadoras diferentes, uma do celular, mais moderna, e outra de uma velha câmera, porque eu estava na dúvida de qual ficaria melhor com a proposta. Então, durante a festa alternei entre as filmadoras enquanto buscava cenas e ações interessantes e pertinentes ao trabalho. Acabou que quando passei a editar o que tínhamos de material, gostei das duas estéticas pois poderia usá-las ao mesmo tempo para deixar as diferenças temporais ainda mais claras. A filmadora do celular, por ter uma qualidade superior, seria usada em todas as cenas. Já a câmera velha, alternando com as imagens do celular, seria usada apenas nas cenas situadas no presente por ter uma imagem mais “analógica” que passa uma certa impressão de se estar assistindo a cena através dos olhos de um stalker ou um voyeur.  De um ponto de vista de diretor, foi um trabalho fácil. Como não era necessário gravar sons ou falas, pude orientar as atrizes enquanto gravávamos. A iluminação foi quase totalmente aproveitada a partir do próprio ambiente, passando um tom quase documentarial ao nosso trabalho; apenas nas últimas imagens gravadas que se tornou necessário o uso de uma lanterna para conseguir capturar algo aproveitável. A própria edição do vídeo também se tornou menos trabalhosa com a decisão de usar músicas no lugar de texto, uma vez que não precisei perder tempo sincronizando som com áudio. Na função de direção de fotografia ou talvez de gerente de localização, já tínhamos até escolhidos onde e quando seria gravada nossa quarta cena. No caso a ideia era utilizar a estrutura de uma casa abandonada que fica localizada próxima à casa de uma das integrantes do grupo. Porém, no dia escolhido para essas gravações, uma chuva forte nos incentivou a não testar a durabilidade do local escolhido.

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