Pasta Nº4
Universidade de Brasília
Instituto de Artes – IdA
Departamento de Artes Cênicas
Disciplina: Teoria e processos criativos para a cena
Semestre: 2/2018
Professor: Marcus Mota
Alunos: Gabriel Barbosa Cabral, Milena Andrade, Ricardo Lisboa e Maria Fernanda.
Ordens de fala: 1º - Gabriel Barbosa Cabral
2º - Maria Fernanda
3º - Milena Andrade
4º - Ricardo Lisboa
Metodologia de pesquisas, levantamento de dados e entrevistas como embasamento
para início do processo criativo.
Gabriel Barbosa Cabral
Ao recebermos a ideia central a ser trabalhada ao longo do semestre sobre o tema
“violência contra a mulher”, em consentimento com o grupo foi analisado que seria
necessário uma pesquisa para gerar o aprofundamento e a melhor compreensão sobre o
assunto, e o que tange o tema. Através destas pesquisas pudemos captar informações
para gerar uma base de conhecimento ao nosso trabalho. Ao longo deste procedimento,
nos deparamos com fontes de grande relevância que influenciou e agregou grande
compreensão sobre o assunto, são estes: Aprofundando o olhar sobre o enfrentamento
à violência contra as mulheres / pesquisa OMV/Datasenado. – Brasília: Senado
Federal, Observatório da Mulher Contra a Violência, 2018. e Walker, L. E. (2009).
The Battered Woman Syndrome. Springer Publishing Company.
Em Aprofundando o olhar sobre o enfrentamento à violência contra as
mulheres, foi um estudo realizado que tinha como objetivo aprofundar o entendimento
acerca da violência contra a mulher e do funcionamento das políticas públicas de
enfrentamento sobre tal violência. Desta forma, foram realizadas 19 entrevistas com
autoridades representantes de órgãos atuantes no enfrentamento à violência contra as
mulheres. Como resultado de tal discussão, concluiu-se que o potencial aumento do
número de mulheres que sofreram violência, o aumento do percentual de mulheres que
nada fez após a última agressão, bem como o alto percentual de entrevistadas que
declararam que a Lei Maria da Penha não protege ou protege apenas em parte as
mulheres, podem ser consequência tanto do marco legislativo quanto a execução das
políticas públicas implantadas com vistas a enfrentar a violência contra mulheres.
Já em A síndrome da mulher agredida (The Battered Woman Syndrom) da
psicóloga americana Lenore Walker, a partir de um estudo em que ouviu 1500 mulheres
em situação de diversos tipos de violência, percebeu que tal violência apresentava um
padrão similar de comportamento em todas as situações de abuso, e observou como
estes padrões de comportamentos são repetidos de forma cíclica, que denominou "Ciclo
de Violência", há fases da violência que tem uma duração variada e manifestações
diferentes. De acordo com tal modelo, a violência entre homens e mulheres em suas
relações afetivas e íntimas apresenta três fases: a) Acumulação da tensão; b) Explosão;
c) Lua-de-mel.
a) Acumulação de tensão: as tensões acumuladas no quotidiano, às injúrias e as
ameaças tecidas pelo agressor, criam, na vítima, uma sensação de perigo eminente.
b) Explosão: o agressor maltrata física e psicologicamente a vítima; estes maus-tratos
tendem a escalar na sua frequência e intensidade.
c) Lua-de-mel: o agressor envolve agora a vítima de carinho e atenções, se redime de
suas atitudes, desculpando-se pelas agressões e prometendo a vítima uma mudança
de postura.
Para tentar dar alguma dimensão da banalização da violência contra a mulher,
partimos para um levantamento de dados, compilamos alguns dados importantes de
pesquisas recentes, e especialmente referentes a agressões, violência sexual,
feminicídio, violência doméstica e percepções sobre violência em todo o país. As taxas
de agressões são alarmantes, o número de denúncias é amedrontador, por mais que
muitas ainda se mantenham caladas e omissas aos atos de brutalidade que sofrem em
seu cotidiano.
Porém, queríamos ir além, saímos das taxas e dos gráficos para dar voz a estes
números. Partimos então para o procedimento de entrevistas, nos articulamos para
reunir relatos de mulheres que já sofreram ou ainda padecem com tal descaso. Todas as
entrevistas ocorreram com o consentimento das entrevistadas, todas realizadas em
anonimato, os depoimentos foram gravados em áudio para depois em grupo podermos
compartilhar as experiências uns com os outros e para podermos ter registrado as falas
das vítimas.
Ao longo do processo de entrevistas, percebemos alguns pontos que eram em
comuns nos relatos destas mulheres, como por exemplo: o sentimento de culpa, o medo
a insegurança, o fato de se manter calada ao fato ocorrido, a sensação de solitude e
vulnerabilidade, o desespero e entre outros. Um aspecto curioso que influenciou nossas
entrevistas foi a liberdade que as entrevistadas tinham ao relatar o seu depoimento as
entrevistadoras mulheres, já com os homens do grupo o número de entrevistas foram
praticamente zero, já que nenhuma mulher se sentia confortável para expor seus
acontecimentos pessoais a um homem.
Após termos passado por estes recursos para obtermos conhecimento à respeito
do tema, e podermos ter material para a execução de um processo de criação, logo nos
sentimos hábeis para partir ao processo criativo.
Desenvolvendo as cenas.
Maria Fernanda
O roteiro diagramático foi uma espécie de guia para os ensaios, pois a partir dele,
foram desenvolvidos alguns exercícios que resultaram na criação do roteiro. Esses
exercícios foram feitos para ativar as emoções do grupo em relação ao personagem, ou
seja, cada integrante escolhia um personagem e passava a realizar ações de acordo com
a situação em que o personagem se encontrava.
No primeiro ensaio os estudantes sentaram-se em cadeiras que estavam
organizadas em círculo. Inicialmente era necessário apenas trocar olhares sem nenhum
tipo de interação ou emoção até todos se concentrarem. Depois que todos os integrantes
estivessem concentrados, cada pessoa teve que escolher um personagem. Em seguida
foi entregue um casaco, onde o objetivo era passar o casaco de mão em mão, no
primeiro momento sem nenhuma intenção, depois era necessário estabelecer uma
relação com o casaco, com a pessoa que o receberia, ou com ambos de acordo com o
personagem escolhido. Quando se notava que alguém da roda estava perdendo a
concentração ou que as relações estavam ficando muito intensas, as cadeiras eram
afastadas e os integrantes recomeçavam o exercício. Durante todo o ensaio foi colocado
musicas para intensificar mais ainda os sentimentos dos personagens. Fez-se um
relatório sobre o primeiro ensaio, onde se abordou o resultado do ensaio. Neste
exercício uma pessoa era a filha (testemunha), a outra era a mãe (vítima) e outra o pai
(agressor). A filha e a mãe se sentiam muito retraídas e tinham medo do pai. No
exercício o casaco era uma metáfora, o objeto de agressão e algo destrutível para o pai.
Para a filha era um brinquedo ou algo que ligassem ela com a mãe e que era destruído
pelo agressor. Para a mãe o casaco representava a confiança da mãe no marido e que foi
se perdendo ao longo das agressões.
No segundo ensaio, foram trabalhados exercícios que transmitissem um
sentimento de desolação, como a vítima se sentiria em certo tipo de situação e o que ela
faria. Cada integrante estava sentado em uma cadeira um do lado do outro, onde tiveram
que executar uma ação em que correspondesse ao sentimento e depois se aumentava a
intensidade da ação. Neste exercício o objetivo não foi alcançado porque não foi
possível trabalhar mais sentimento que ação, ou seja, por mais que houvesse sentimento,
estes não foram reproduzidos.
No terceiro ensaio o exercício executado no primeiro foi repetido, porém, a
conexão foi entre um pai e dois irmãos. Foi feita uma comparação com a situação
política atual, pois foi um dia depois da eleição, então os integrantes do grupo estavam
bem envolvidos com isso. No fim do exercício, os sentimentos explicitados foram de
união, apesar de existir a relação agressor\vítima.
No quarto ensaio, foi feito um exercício onde algumas pessoas formavam um
paredão e uma pessoa ficava de fora. O objetivo das pessoas do paredão era não deixar
que a pessoa que estivesse fora ultrapassasse a barreira. Foi dada uma situação para a
pessoa que estivesse fora do paredão tentar ultrapassá-lo. Neste exercício a força
predominou tanto nas pessoas que estavam no paredão, quanto na pessoa que estava
tentando atravessá-lo. Teve momentos em que a pessoa que estava de fora se esforçava
tanto que fadigava e perdia as forças, porem nunca desistia.
No quinto ensaio o mesmo exercício da cadeira foi executado, porém foram
estabelecidas emoções mais fortes entre a relação ator\personagem e já foram
estabelecidos os papéis de cada ator. Foi trabalhado o que cada pessoa faria a partir do
personagem e do roteiro diagramático. No fim, os atores não estavam mais sentados nas
cadeiras, e tiveram que correr em círculos, incluindo os objetivos do personagem. Foi
um dos exercícios que mais ajudou na identificação dos personagens e na inspiração
para criação do roteiro.
Em geral, os ensaios foram bem produtivos, principalmente depois da criação do
roteiro diagramático, os ensaios iniciais foram feitos para preparar o corpo para o
personagem. Foram explicitados mais a relação do agressor com a vítima, pois era a
intenção que envolvia mais os atores com os personagens.
Processo de criação do roteiro
Milena Andrade
No momento inicial o título escolhido foi “caso número quatro”, onde a ideia era
contar a historia de quatro mulheres denominadas Maria, que sofreram violências
sexuais, domésticas e agressões, todas cometidas por homens. Coincidentemente todos
os casos estavam arquivados em uma delegacia. Porém, a partir dos ensaios, o título foi
alterado para “pasta número quatro”, pois se notou que eram quatro casos de violência
contra a mulher que foram esquecidos e não tiveram nenhum resultado investigativo.
O nome “pasta” se deu por ser um documento arquivado na delegacia que
continha prescrita a denúncia das quatro Marias. Já o “número quatro”, foi escolhido
por ser quatro casos de quatro mulheres reunidos em um arquivo, cujo número era 4.
O objetivo principal do título foi explicitar que apesar dos casos serem
extremamente importantes, foi esquecido tanto pelos delegados como pela sociedade, ou
seja, após muito tempo de investigação, não obtiveram resultado algum e arquivaram.
Após serem arquivados ninguém falava mais sobre essas denúncias e todos ignoraram o
fato de serem denúncias graves que poderiam resultar em morte, pois as agressões além
de serem constantes, eram bastante intensas e com o passar do tempo, só aumentavam.
Roteiro diagramático
Inicialmente o grupo teve bastante dificuldade em colocar as ideias no roteiro
diagramático, pois ninguém havia trabalhado com isso antes, principalmente no
momento em que foi necessário transferir as ideias para a tabela, pois até então, não foi
notada a importância que ele tinha. Quando o grupo começou a ensaiar, os integrantes
passaram a entender a grande necessidade e a diferença que ele faz no processo criativo
da cena.
Foi colocado tudo que era necessário para ajudar na criação da cena, como
seriam os sons que seriam usados, se teria falas ou não, como seriam executadas as
ações, onde as cenas iriam acontecer, a partir da identificação dos personagens foram
colocados os figurinos, etc. No momento de criação também foram discutidas as
questões à respeito das coisas que não eram necessárias. Ou seja, o roteiro diagramático
foi essencial para que o roteiro fosse concretizado de forma organizada e fluida.
Pode-se dizer que o roteiro diagramático foi o ponto de partida do grupo, pois
foi a partir dele que se obteve o desenvolvimento das ideias. Isso o transforma em uma
múltipla possibilidade de aplicar o que quer desenvolver nas cenas. É como se através
do roteiro diagramático, as pessoas conseguissem ver e experimentar as ações de
diversas formas diferentes, as possibilidades de melhorar um roteiro, os métodos
possíveis para a composição da ação, os exercícios que poderiam ser aplicados nos
ensaios para a relação ator\personagem ser unificada durante cena e a seleção das ideias,
ou seja, todos os integrantes do grupo através do roteiro diagramático conseguiram
explicitar de alguma forma as suas ideias em cima do tema proposto pelo professor em
sala de aula.
Estética, roteiro e suas intenções.
Ricardo Lisboa
Pareceu correto, logo de cara como roteirista e diretor do curta metragem sobre o
tema feminicídio, violência contra a mulher associar ao trabalho e encenação de Bertold
Brecht. Pela mensagem e poder político e social que a temática impõe tanto,
principalmente com escolhas como os nomes das quatro mulheres. Quantas Marias não
se identificariam com as cenas? Ou até mesmo quem tem um ou outro como conhecido.
E como Fernando Peixoto diz, Brecht procura ativar no espectador tal desconforto que
ele se veja compelido a questionar, não só o que vê, mas as circunstâncias ali
representadas. “Brecht recusa o espetáculo como hipnose ou anestesia: o espectador
deve conservar-se intelectualmente ativo, capaz de assumir diante do que lhe é mostrado
a única atitude cientificamente correta – a postura crítica”. (PEIXOTO, Fernando. “O
Que é Teatro”. São Paulo: Brasiliense, 1980).
Como roteirista escolhi esse princípio como mote para a transposição de cena
para o mundo de Brecht; o estranhamento e a retirada do diálogo direto e a identificação
não passiva. A primeira coisa foi abandonar nomes e ser apenas “delgados e escrivão”,
apesar das Marias, elas como personagens chaves precisavam de uma identificação a
mais, como uma segunda, terceira camada. Que gera um contexto social e identidade de
idade.
Para o roteiro a princípio a gente queria poder contar quatro histórias diferentes,
porém desenvolver e focar apenas em uma e que as outras fossem como amarras. Mas
dentre todos os depoimentos que colhemos todas as histórias tinham importâncias e
pesos iguais e todas precisavam ser contadas. Para cada cena a gente conseguiu
imaginar já esquetes de como cada cena seria feita, por isso houve muita dificuldade de
desenvolver um roteiro preciso. Era como ter a direção e não ter o texto.
Houve alguns atropelamentos no nosso processo criativo, que determinou as
nossas falhas. Como escolher antes mesmo de ter as narrativas o nome para o projeto
que iniciou como “Caso nº 4”, que partiu da numerologia da divisão de grupos e, após
termos selecionado quatro casos das entrevistas e depoimentos que colhemos. A gente
cogitou seguir a linha pelo o título, até certo ponto a gente se perder, pois não faria
sentido sendo quatro casos e não um casa que seria o 4°. Até que chegou no ponto de
escrever o roteiro e perceber que o nome escolhido não fazia mais sentido para a
proposta. Então mantemos apenas a intenção do “caso, delegacia” para podermos fazer
uma denúncia. E poder seguir com os 4 casos que eram importantes naquele momento
desenvolver.
Buscando ainda nos conhecimentos brechtinianos, queria focar a criação na
mensagem que iremos passar, não no drama, na emoção ou sentimento particular do
indivíduo, mas sim como o problema seria mostrado e como afetaria a sociedade nele
inserida. Mesmo que nos ensaios partimos para exercícios que buscavam a emoção
ator/prensagem, e contudo na hora de traspor o roteiro para o papel e pensando na
direção, os exercícios foram de suma importância para entender a relação sentimento e
movimento como partitura. E houve a ideia ainda em processo criativo, antes até mesmo
de irmos para o roteiro diagramático de quando acontecessem os flashs com as
denúncias não haver voz, apenas um áudio com várias denúncias as delegacias da
mulher de cidades de Santa Catarina, que na intenção da denuncia e por conhecimento
do grupo e por ser algo que tenha sido divulgado para conhecimento de todos, achamos
importante implementarmos ele no trabalho, que casou logo em não nos importamos
criar tensão para o momento em que acontece as denúncias, mas sim nas engrenagens
sociais que as fazem tomar a decisão de denunciar. A escolha da cidade foi pensada
também no significado social, sendo Tumiritinga uma cidade do interior de Minas
Gerais que está no mapa das cidades com maior número de casos de denúncia de
violência contra mulheres. Infelizmente, as ideias apesar de bem-sucedidas no
entendimento do grupo e com pesquisa imagética de como ficaria o resultado final, ao
mostrar ao professor, o retorno foi que essas não tinham ficado muito claras. A crise foi
não abandonar as ideias e como torná-las evidentes as outras pessoas que leriam o
roteiro, pois para o grupo o jeito que foi transcrito, e a ideia de que nós unicamente que
iramos criar estava visível e de forma alguma queríamos abandonar nossas ideias.
A nova dica do professor foi de, antes de escrever o roteiro no papel narrar como
cada cena iria acontecer e depois transcrever a narração e, assim poderia ficar mais claro
para que outras pessoas pudessem pegar o roteiro e também saber o que fazer com ele.
Foram várias ideais de como fazer e nos perdemos em muitos elementos, até
chegarmos a um resultado satisfatório que não contemplasse apenas o grupo, mas a
todos. E seguindo a nossa principal intenção com o trabalho, que sempre foi uma só, de
fazer uma denúncia e alertar.
segunda-feira, 26 de novembro de 2018
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